Justificativa:
Ao tratar das
especificidades das formas de inserção das mulheres no mercado de trabalho,
pretende-se contribuir para o debate sobre desigualdades raciais e de gênero. O
perfil do mercado de trabalho expressa, dentre outros aspectos, o resultado do
processo histórico que conformou a sociedade brasileira. Nesse sentido, é de
fundamental importância dimensionar o papel desempenhado pelo atributo raça/cor
dos indivíduos na produção e reprodução do diferencial nas oportunidades de
acesso ao mercado de trabalho. De acordo com Heilborn, Araújo e Barreto:
[...] as raças foram
abolidas do discurso erudito e popular no período de 1930 a 1970, quando
vigorou o discurso do mito da democracia racial no Brasil. Paradoxalmente, na
prática, as queixas sobre discriminação associadas à cor, bem como à taxa de
desigualdades aumentaram. Essas vozes isoladas de denúncias dessa realidade
fortaleceram um discurso identitário que redundou na reconstrução étnica e
cultural no Brasil. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2006, p. 118)
Falar de desigualdades remete à
igualdade enquanto um fim que deve ser alcançado, contemplando, desta forma, as
diversidades raciais e de gênero existentes na sociedade. Nesse sentido, o
termo diversidade está sendo utilizado como valor e, assim, procura-se medir o
grau de diversidade da sociedade, identificando os grupos nos quais as
diferenças passam a ser motivo de desigualdade, que podem ser traduzidas em
acessos desiguais a oportunidades, acabando por gerar formas de exclusão.
Donald Pierson, sociólogo
norte-americano, foi um dos que iniciou os trabalhos em torno das questões
raciais no Brasil. De acordo com ele:
[...] o Brasil seria
uma sociedade multirracial de classes, ou seja, uma sociedade de classes na
qual se podia verificar a presença de indivíduos em todos os níveis da pirâmide
social. [...] também afirmava que o apego à noção de raça era pequeno e seria
errôneo falar em “preconceito de raça”, o qual era extremamente difícil de ser
visto e, quando ocorria, se dava de maneira isolada a partir de crenças e
atitudes individuais estranhas às condições autóctones. Por outro lado, era
evidente ao autor a existência de “preconceito de classe” [...] (HEILBORN,
ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 89)
As mulheres vêm atuando no
mercado de trabalho de forma cada vez mais crescente. Inicialmente, seu
ingresso deveu-se à necessidade de auxiliar nas despesas familiares, porém,
hoje vemos que em alguns lares é ela mesma quem os “chefia”, sendo as
responsáveis por sua manutenção.
A presença mais notável de
mulheres negras entre as pessoas pobres é reflexo de um processo histórico de
(re)produção de desigualdades sociais. Essas desigualdades têm como eixos
estruturantes os marcadores sociais como gênero e raça-etnia, os quais orientam
a construção da cidadania e a efetivação de direitos. Heilborn, Araújo e
Barreto apontam que:
[...] as diferenças
de gênero e de raça/etnia, ao lado das de classe, se destacam, entre outras
características disponíveis dos seres humanos, como indicadores significativos
da desigualdade social e elas interagem para reproduzir a opressão das mulheres
em geral e as diferenças particulares entre elas. [...] a naturalização das
desigualdades sociais atua como forma de
conciliar igualdade de oportunidades com a desigualdade existente, na medida em
que transfere para a natureza a explicação dessas desigualdades. (HEILBORN,
ARAÚJO & BARRETO apud STOLCKE, 2010, p. 12)
Ao observarmos o Shopping
do município de Cachoeiro, podemos perceber que a presença de trabalhadoras
negras quase é inexistente, neste local podemos ver uma ou outra laborando em atividades
ligadas à limpeza e ao estoque de mercadorias. O “embranquecimento” das
atendentes das lojas está ligado à solicitação da dita “boa aparência”,
costumeiramente exigida nos currículos de emprego. Esse preconceito racial, uma
violência sutilmente disfarçada, vem deixando de fora do mercado de trabalho
cachoeirense diversas mulheres que, mesmo tendo qualificação para exercer as
funções propostas, acabam ficando de fora dos postos de trabalho por causa da
sua cor. Assim, é possível verificar como a atuação no mercado de trabalho gera
desigualdades, tanto por segmentação quanto por discriminação sexual e
racial. Heilborn, Araújo e Barreto
explicitam que:
O ingresso de homens
e mulheres negros (as) no mercado de trabalho ocorre em situações de
desvantagens, em relação ao grupo branco, devido às maiores possibilidades de
sucesso educacional destes últimos. Além disso, os (as) negros (as) estão
expostos à discriminação relacionada à cor/raça, impedindo o acesso às
ocupações mais valorizadas, mesmo quando conseguem romper a barreira
educacional, limitando suas possibilidades de ascensão social. Disto resulta
uma concentração desproporcional de negros (as) nas ocupações manuais, menos
qualificadas e mais mal remuneradas. [...] Os estudos sobre mobilidade e raça,
no Brasil, apontam que as desigualdades raciais vão se tornando mais evidentes
à medida que os (as) negros (as) vão se
movimentando para o topo da pirâmide ocupacional. [...] o preconceito de classe
se torna mais relevante à medida que
subimos na hierarquia de classes no Brasil (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO,
2010, pp. 150-151)
Para verificar a situação
observada, propomos uma Pesquisa Social a fim levantar dados quantitativos e
qualitativos que venham a definir quantas são essas mulheres, os cargos que
ocupam, suas reais condições de trabalho, seu vinculo empregatício, há
quanto tempo desempenham a atual função, as oportunidades
de crescimento dentro do seu setor de trabalho, além de sua percepção quanto a
existência de preconceito racial neste tipo de estabelecimento comercial.
Através dos dados obtidos na pesquisa e da criação de material, desejamos
promover ações que venham a promover a melhoria das necessidades verificadas.
Metas:
Por meio da Pesquisa
Social, serão traçadas as seguintes metas: verificar quantas trabalhadoras negras
sofreram preconceito racial quando procuraram/pleitearam emprego nesta área
comercia; relatar quais os tipos de trabalho que as mulheres negras estão exercendo
e qual a oportunidade que tiveram para ascender profissionalmente neste local;
constatar as condições de trabalho e os salários obtidos por essas mulheres; verificar qual a posição que elas ocupam em
seu lar – se são as responsáveis por sua família; definir quais são os vínculos empregatícios
mais comuns que elas têm com este estabelecimento social (prestadoras de
serviço terceirizadas, trabalhadoras com Carteira de Trabalho assinada etc).
Ao final da Pesquisa
Social e levantamento de dados, será elaborado um Plano de Ação a fim de propor
ao Governo Municipal ações que venham atender às demandas constatadas, a fim de
que as trabalhadoras negras possam vir a desfrutar de melhores condições de
trabalho e oportunidade na instituição analisada.
Sustentabilidade
É através do Estudo
Social que saberemos as verdadeiras
condições desfavoráveis à formação de um
(a) bom (a) cidadão (ã), ou seja, se o ambiente em que as mulheres negras trabalham
é de fundamental importância para o acompanhamento da evolução comportamental
dessas mesmas mulheres, sobretudo no desempenho do trabalho, podendo com
maestria avaliar possíveis causas de fraquejos e apontar soluções.
Vamos propor à ACISCI a
realização periódica de pesquisas sobre
o mercado de trabalho e confrontá-los com os dados do Ministério do Trabalho.
Sugeriremos à Câmara de Vereadores a criação de um projeto de lei, para saber
como as mulheres negras têm se comportado no mercado do trabalho. Será também
proposto um treinamento aos funcionários
do shopping e incentivo à Direção do Shopping para a continuação de pesquisa
periódicas.
Detalhamento
dos Custos
Orçamento
Resumido
|
||||
PLANEJAMENTO DETALHADO DOS CUSTOS
PARA 60 DIAS
|
||||
Materiais
e Instrumentos
|
Quantidade
|
Propósito
|
Custo
Unitário
|
Custo
Total
60
dias
|
Camisetas
|
10
|
Divulgar o projeto durante a
realização das atividades
|
R$ 20,00
|
R$ 200,00
|
Banner do projeto na entrada da
instituição
|
01
|
Demonstrar o início do novo projeto
da instituição.
|
R$ 100,00
|
R$ 100,00
|
Pesquisador ou pesquisadora
|
5
|
Coletar, amazenar, mensurar, tabelar
e apresentar os dados.
|
R$ 40,00
|
R$ 12.000,00
|
Impressão dos formulários na gráfica
|
100
|
Mídia onde será coletada
|
R$ 0,50
|
R$ 50,00
|
Digitador
|
1
|
Pessoa responsável para digitação
dos dados
|
R$ 25,00
|
R$ 1.500,00
|
Impostos / Encargos
|
|
|
|
R$ 4.000,00
|
TOTAL GERAL
|
|
|
|
R$
17.850,00
|
Parceiros
|
Parceiro
|
Valor do Investimento (em R$)
|
Prefeitura Municipal de Cachoeiro de
Itapemirim -> Cederá 1 motorista e carro com tanque cheio de gasolina que
levará os 5 pesquisadores do centro de Cachoeiro ao Shopping Sul, durante 60
dias
|
R$
15.000,00
|
UFES
Doação de valor para ter direitos de
uso da pesquisa e publicação em projetos acadêmicos
|
5.000,00
|
Total
|
20.000,00
|
Declaração
de Contrapartida
Declaramos, para fins de
comprovação junto ao Ministério das Cidades, que os recursos referentes à
contrapartida para fazer frente às despesas parciais com o projeto PESQUISA DE CAMPO EM SHOPPING CENTER, estão
assegurados no planejamento orçamentário desta instituição para o exercício de
2012.
Cachoeiro de Itapemirim, ES – 31 de
Maio de 2012
PESQUISA
DE CAMPO EM SHOPPING CENTER
DETALHADAMENTO
DE CONTRAPARTIDA
|
Contrapartida
|
Valor
do Investimento (em R$)
|
Publicação da logomarca dos
parceiros e doadores no projeto acadêmico.
Divulgação dos parceiros nos meios
de comunicação falada e escrita.
Uso da logomarca nos impressos e
camisetas oficiais
|
R$ 20.000,00
|
Declaração
de Adimplência
Declaração do Governo Federal
Alunos Reunidos do Grupo 3 – Violência
Contra Mulher Negra não estão inadimplentes com nenhum órgão ou entidade da
Administração Pública Federal Direta ou Indireta.
Cachoeiro de Itapemirim, ES – 31 de
Maio de 2012
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
HEILBORN, M. L.; ARAÚJO, L.; BARRETO,
A. (orgs). Gestão de políticas públicas
em gênero e raça/GPP-GeR: módulos 3 e 4. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília:
Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.
STOLCKE, V. Sexo está para gênero
assim como raça para etnicidade ? Estudos
afro-asiáticos. Rio de Janeiro, n. 20, 1991, p. 101-119