sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Preconceito de marca e origem



                Os estudos que tratam das questões raciais no Brasil estão divididos, de acordo com Nogueira (1979), em três correntes:  a corrente afro-brasileira, a dos estudos históricos e a corrente sociológica, cada qual trazendo, de acordo com suas especificidades, suas concepções e definições de racismo e preconceito. Este mesmo autor traz uma contribuição para a compreensão do preconceito, caracterizando-o como: preconceito racial de marca e de origem:

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais  se tem como estigmatizados, seja  devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descenda de certo grupo étnico, para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-se que é de origem.  (NOGUEIRA, 1979, p. 78-79)

            Considerando as diferenças dos preconceitos raciais de marca e de origem, destaca-se a questão da carga afetiva, em que, segundo o autor, o preconceito de marca tende a ser mais intelectivo e estético, enquanto o de origem tende a ser mais emocional e mais integral.

·         REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
NOGUEIRA, O. Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais. São Paulo: T.A. Queiroz, 1979.

Um pouco de música....



“Negro drama,
Entre o sucesso e a lama,
Dinheiro, problemas,
Inveja, luxo, fama
Negro drama,
Cabelo crespo,
E a pele escura,
A ferida, a chaga,
A procura da cura.
Negro drama,
Tenta ver
E não vê nada,
A não ser uma estrela,
Longe, meio ofuscada.
Sente o drama,
O preço, a cobrança,
No amor, no ódio
(...)
Me ver,
Pobre, preso ou morto,
Já é cultural.”

                                                                   Negro Drama – Racionais MC’s



                    "A carne mais barata do mercado é a carne negra
  Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
  Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos.
  Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão,
  O gado aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento, mas muito bem intencionado
Esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
E mesmo assim, ainda guarda o direito
  De algum antepassado da cor
  Brigar por justiça e por respeito
  De algum antepassado da cor
  Brigar bravamente por respeito.”
   
                                                                      A  Carne – Farofa Carioca




domingo, 27 de novembro de 2011

O Percurso do Conceito de Raça

         Após a Abolição da Escravatura, em 1888, no Brasil e com uma população formada basicamente por negros (as) e mestiços (os), o país se vê as voltas  com cidadãos (ãs) antes sujeitos sem direitos (escravos/as) e com novas demandas. Ao mesmo tempo, pairavam sobre o país as teorias racistas oriundas da Europa que condenavam o futuro de um país mestiço como o Brasil. Tais teorias apresentavam concepções hierarquizadas e biologizantes das raças, construídas na virada do século XVIII para o XIX.  O conceito de raça surgiu no século XVI: “[...] raça é um conceito que surge primeiramente no século XVI e era utilizado para identificar um grupo ou categoria de pessoas conectadas por uma origem comum.” (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 71)
          Assim, considerando tais concepções as pessoas brancas eram consideradas superiores às pertencentes a outras raças e a miscigenação  era algo que enfraquecia os grupos, sendo estes considerados como degenerados. De acordo com as autoras:


No contexto do século XIX, raça era tida como uma categoria biologizada, na qual as diferenças raciais eram dadas de forma ontológica, ou seja, cada raça possuía uma natureza própria que a diferenciava das demais de forma irredutível. Em outras palavras, não havia liberdade individual dentro das premissas raciais; as características psicológicas, biológicas, sociais e até de caráter estavam submetidas às características que definem o grupo, de modo que o indivíduo estava submetido às características (boas ou ruins) de sua raça. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 12)


         A partir deste contexto, o país estaria condenado ao fracasso devido às suas características raciais.   Buscou-se    assim   uma   definição   da   identidade nacional “[...] entendida como o conjunto de características que nos formam como indivíduos singulares e que informam aos (às) outros (as) códigos sobre como agir e se relacionar em relação a nós.” (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 73)
          Intelectuais brasileiros   como Sílvio Romero e Raimundo Nina Rodrigues buscavam a solução para o impasse de se pensar  a viabilidade da nação brasileira dentro do contexto racista do século XIX.  Ambos concordavam quanto à hierarquia entre os grupos raciais, porém discordavam em relação às conseqüências da miscigenação.
Silvio Romero considerava a miscigenação uma  possibilidade de depuração do sangue negro por meio da inserção de mais brancos (as) no território. Raimundo Nina Rodrigues, ao contrário, era contra a miscigenação, pois esta produziria seres degenerados.
            Considerando este contexto, o estímulo à imigração de europeus (eias) no Brasil  não estava ligado apenas à mão de obra mas também à ascendência racial. Com isso, favoreceu-se  à vinda de europeus (eias) e dificultou-se a imigração de chineses (as) e japoneses (as) , pois os (as)  asiáticos (as) eram menos assimiláveis que os (as) brancos (as) europeus (eias).  Inicia-se, então, o processo de embranquecimento do país.
Gilberto Freyre, autor da obra “Casa-Grande & Senzala” foi o primeiro teórico a recontar o mito das três raças, tornando positiva a contribuição da cultura negra  para a identidade nacional. Conforme expõem as autoras:

Sob a influência teórica do “pai da antropologia cultural”, Franz Boas (1858-1942), Freyre elaborou uma interpretação da formação do Brasil que deixava de lado o pessimismo racial que condenava o país e fazia uso da categoria “cultura” para entender o processo de formação da sociedade brasileira que, segundo sua análise, seria mestiça. [...] o autor evidencia e positiva as contribuições culturais dos (as) negros (as) para a formação do país. HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 12)


            A partir de Gilberto Freyre as análises baseadas no determinismo racial são deixadas para trás, bem como o ideal de embranquecimento que passa a ser substituído pelo ideal de mestiçagem. Porém, alguns críticos deste intelectual apontam que ele apenas substituiu o determinismo racial por um determinismo cultural, em que a noção de  cultura seria substituída pela noção de raça.
            No Brasil, com a ditadura de Getúlio Vargas as questões de identidade sobre a constituição do povo e cultura brasileiros começaram a ser definidos, na medida em que elementos da cultura foram  interpretados como símbolos da nação brasileira e a concepção de raça foi substituída pela de cultura.  Ao mesmo tempo, o mito da democracia racial


[...] afirmava a convivência pacífica e igualitária entre grupos raciais  diferentes; manifestações  e elementos culturais de origem negra/africana, antes repudiados haviam sido elevados à categoria de expressão da nação brasileira, constituída por um povo mestiço. Os termos que se ouviam à época eram integração e assimilação, ou seja, integração da população de origem negra e mestiça à sociedade de classes que se constituía, e assimilação dos padrões culturais mestiços.  (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 86-87)


            Porém,  os (as) ativistas negros (as) denunciavam a situação vivida pelos (as) negros (as) no Brasil. Após a Abolição da Escravatura, os (as) negros (as) não receberam nenhum tipo de  auxílio  estatal, ao mesmo tempo em que eram preteridos  no mercado de trabalho, pois havia uma preferência pelos (as)  imigrantes.
            No Brasil, sabemos que o modelo de segregação racial não foi o mesmo vivido por países como Estados Unidos ou África do Sul, porém vivemos até os dias de hoje um modelo  em que o preconceito existe de maneira velada, o que o torna mais difícil de ser combatido. Ao mesmo tempo, o mito da democracia racial também dificulta a discussão em torno da questão.
             Donald Pierson, sociólogo norte-americano, foi um dos que iniciou os trabalhos em torno das questões raciais no Brasil.  De acordo com ele:

[...] o Brasil seria uma sociedade multirracial de classes, ou seja, uma sociedade de classes na qual se podia verificar a presença de indivíduos em todos os níveis da pirâmide social. [...] também afirmava que o apego à noção de raça era pequeno e seria errôneo falar em “preconceito de raça”, o qual era extremamente difícil de ser visto e, quando ocorria, se dava de maneira isolada a partir de crenças e atitudes individuais estranhas às condições autóctones. Por outro lado, era evidente ao autor a existência de “preconceito de classe” [...] (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 89)

  
            Conforme expõem Heilborn, Araújo e Barreto:


Fica explícito o paradoxo existente à época. De um lado, representações e pesquisas que confirmavam o imaginário de democracia racial, reconhecendo as desigualdades de classe, porém negando a existência de preconceitos raciais. De outro, a relutância em aceitar a representação do Brasil como um país não branco e o desconforto com a presença de negros (as) e mestiços (as) , dando margem à proposição de medidas segregacionistas como solução para  aqueles (as) que  viam nessa diversidade um problema. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 91)


Fica evidente que a identidade do Brasil foi construída a partir do mito da democracia racial e de um racismo cordial, o que dificulta a  superação do preconceito racial na medida em que não nos assumimos como preconceituosos e não contribuímos para a formação de uma democracia efetiva.

* REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


- HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (orgs). Gestão de políticas públicas em gênero e raça/GPP-GeR: módulo 2. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Questões de "raça"


O  conceito de racismo é indispensável para a construção de raça e sua relação com alguns fenômenos sociais, políticos e econômicos, como o nacionalismo, o imperialismo e o etnocentrismo, dentre outros.  Porém,  o conceito de raça foi ressignificado ao longo da história e de sua relação com o conceito de cultura, diferença cultural, “pureza racial e cultural”, havendo por trás desses conceitos um medo da miscigenação.  Assim,

[...] se por um lado, a negação da assimilação e da mistura reitera um racialismo mais evidente, uma forte necessidade de distinção entre os grupos, por outro lado, a miscigenação, nas concepções nacionalistas, aparece como ideal das sociedades e é defendida como forma de superação das diferenças e de homogeneização do “corpo social”. Nessa visão, a unidade nacional é fruto da fusão ou coincidência entre cultura e raça, condição para se superar uma diversidade inicial, ou seja, quando interna à nação, a diferença é temida e indesejada. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 12)


            O século XIX  trouxe uma concepção pseudocientífica do racialismo, marcado por diferenças físicas e hereditárias que assinalam ao mesmo tempo diferenças morais e culturais entre os seres humanos.  Esta teoria de hierarquização racial baseada em critérios biológicos justificou  as ações coloniais e/ou de extermínio de sociedades ditas inferiores. Como exemplo, cito o extermínio dos   astecas pelos espanhóis, justificado também por motivos econômicos. Neste caso, porém,  o extermínio não estava baseado nas concepções do racismo científico que surgiu apenas no século XIX.
            Outra teoria entende o racismo como uma derivação do etnocentrismo, ou seja, o racismo  tem origem na valorização de determinadas culturas ou grupos tidos como superiores a outros. 


O racismo, nessa visão, seria apenas um modo específico do etnocentrismo de julgar o “outro” a partir da aparência e  hierarquizar grupos humanos pela distinção racial. Nessa teoria, o racismo aparece como algo  naturalizado, posto que é  apenas um tipo histórico de um modo universal de julgar e agir com relação à “diferença”. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 14)


            Uma terceira concepção de racismo considera-o como um fenômeno específico da modernidade, construído a partir do afastamento da religião como única maneira de explicar e classificar o mundo, a partir do Iluminismo no século XVIII.
            Heilborn, Araújo e Barreto destacam que apostam na concepção histórica do racismo, compreendido como um fenômeno de longa duração e o conceito social de raça, que independe do fundamento racionalista da ciências biológicas.
            A  concepção de racismo enquanto fenômeno histórico  se estabelece a partir da  discussão entre o relativismo e o universalismo. Tal concepção derruba a noção de direito natural, isto é, dos direitos inalienáveis inerentes à condição humana, ao mesmo tempo que consolida a noção de indivíduo. Entretanto, tal concepção procura também estabelecer uma  distinção ente os animais e os seres humanos, além de estabelecer a superioridade humana e, consequentemente, justificar a dominação dos animais ditos irracionais. Outra vertente baseada no debate entre o relativismo e o universalismo deteve-se na posição da superioridade das sociedades européias em relação às demais. Assim,


O universalismo supôs haver critérios universais para o julgamento moral, o que significa a superioridade das sociedades européias sobre as outras., inferiores ou atrasadas em suas crenças e costumes. Já o relativismo defendeu que a cultura  (ou “costume”, como se dizia na época) é constitutiva da humanidade e, assim, diante de tamanha diversidade, não haveria critério possível para julgar  outras culturas, tendo como base a sua própria.  Se a crítica apontada aos universalistas era o constante abuso do etnocentrismo ao olhar as outras sociedades, a posição relativista incorria no extremo de, ao defender que as sociedades humanas não poderiam ser “medidas”, tornar impossível a construção de uma base comum. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 20-21)


        
 O conceito de raça operou nas realidades e definiu políticas, ao mesmo tempo  que assumia significados biologizantes e essencialistas no processo histórico.   Com a descoberta das Américas, as teorias bíblicas do monogenismo, que pregam a descendência única da humanidade desde Adão, foram abaladas. Os europeus se depararam com novos povos com costumes e culturas diversos, o que reavivou as teses de pluralidade  da origem humana.  Entretanto, a entrada dos (as) indígenas do universo da humanidade livrou-os (as) da escravidão, o que não aconteceu com os (as) negros (as), tidos (as) como inferiores e cujas características eram taxadas de animalescas.

Outras teses poligenistas mais afastadas das justificativas religiosas sobre a divisão desigual da humanidade, propunham origens distintas dos diversos povos, baseados nas classificações por tipo e aparência, que era o critério adotado na biologia então nascente. A escravidão passou a encontrar justificativa na inferioridade dada pela cor, associada à moral e à capacidade intelectual  do (a) negro (a), aproximada da animalidade. A concepção racial aqui, embora não científica, já instaura uma divisão dentro da humanidade que se hierarquiza pela proximidade de uns  (umas), mais que outros (as), ao mundo animal. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 30)


            Entre os filósofos iluministas, a negação do monogenismo  produziu teorias sobre a hierarquização biológica dos diferentes grupos humanos. Ao mesmo tempo,  a aceitação do monogenismo  impôs ao racismo a hierarquização das raças baseada na degeneração. Entretanto, o monogenismo imperou. De acordo com essa teoria, “embora a humanidade seja uma, as diferenças raciais determinariam as desigualdades na mora (ética), na beleza (estética), na capacidade de progredir  (perfectibilidade).” ( HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 31)
            A construção da noção de raça e de racismo no século XIX deriva de dois processos: a consolidação do Estado nacional na Europa e  as relações  intensificadas entre os povos europeus e outros povos na era contemporânea imperialista.  O Estado nacional surge a partir da necessidade  em buscar origens de uma  nação no passado, conseguindo, desta forma, a legitimidade de uma nação diante de grupos ou sociedades que se pretende conquistas e unificar. Tal unificação tem um caráter político, cultural e social. Há dois modelos principais de  Estado-Nacional:


Um que baseia seu pertencimento por meio do pressuposto de uma  origem comum (fundamento ético de nação) e outro que declara o funcionamento da nação pela lealdade dos (as) cidadãos (ãs)  a um aparato  jurídico-territorial (fundamento civil de nação, cujo símbolo está na ideia de contrato social). [...] Nessa base, o étnico enquanto origem comum de um povo se confunde com o racial, no sentido de perceber a origem como uma “natureza” da nação. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 36-37)



            Um dado relevante refere-se à etimologia da palavra  “raça”, em que podem ser encontrados termos como linhagem ou cepa, que levam à relação entre raça e grupo de descendência, povo. Assim, segundo o nacionalismo de base étnica, “a nação possuía um caráter moral comum, ao mesmo tempo natural e cultural. Era baseada no parentesco, na ideia de sangue, mas também na partilha de uma língua comum.”  (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 37).
             Em oposição ao determinismo racial, que preconizava a influência do clima ou do ambiente nas características ou degenerações das diferentes raças, surge a ciência biológica orientada por características morfológicas  determinantes da moralidade e das capacidades dos sujeitos pertencentes a determinadas raças. “Para demonstrar a inferioridade racial de grupos não brancos, chegou-se a classificações tipológicas baseadas em características  fenotípicas   dos   indivíduos. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 41)
            Uma outra concepção de raça está baseada no Darwinismo Social.  De acordo com o sociólogo inglês Herbert Spencer, o progresso humano tem como base a hierarquia racial.


As teorias que vieram a ser conhecidas por darwinismo social procuravam uma aplicação no mundo social das teorias darwinistas sobre adaptabildiade, sobrevivência e evolução das espécies, que na teoria original se restringia ao mundo natural. Introduz-se a ideia de “luta pela vida” dentro de uma mesma espécie que compete pelos mesmos recursos, os quais são escassos. Assim, os diferentes grupos humanos não apenas se desenvolveriam por intermédio da adaptabilidade ao meio, mas também pelo conflito, a partir da qual  os (as) mais aptos (as) ou fortes sobreviverão ou subjugarão os (as) outros (as). (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 46)



            Com isso, justificava-se todo tipo de subordinação e subjugação de uma raça considerada superior sobre outra considerada inferior, seja pela sua pobreza, seja pela incapacidade inata.
            Em 1951, foi publicada a 1ª Declaração sobre Raça, que negou qualquer relação entre características físicas e atributos morais ou intelectuais. Foi também preconizada a mudança do termo  raça para etnia, porém a mudança do termo não significou mudança de significado. 


Cultura, em suas diferentes concepções, foi pensada por vezes mais como um conjunto  de traços, crenças e costumes ordenados de forma estática do que como uma estrutura dinâmica  que se transforma pelo processo histórico. Assim, cultura assimilou a mesma concepção naturalizada de raça, como conjunto de caracteres visíveis e hereditários dentro do agrupamento humano. (HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 58)

            Durante o processo de descolonização da África e da Ásia a conquista das independências dos países se deu de duas formas: pela política de concessão de autonomia e  pelas lutas de independência. Ambas as formas produziram ideologias que se centravam nos seguintes aspectos: a produção de uma identidade comum africana e a formulação dessa identidade pela revalorização de suas histórias e a ressignificação de raça como um valor positivo e símbolo de luta contra o racismo.
           



* REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


- HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (orgs). Gestão de políticas públicas em gênero e raça/GPP-GeR: módulo 2. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010

domingo, 2 de outubro de 2011

Notícias do dia...

                   Hoje, passando os olhos por um jornal de circulação estadual li algumas reportagens que refletem questões de  gênero. Uma delas intitulada "Professora têm de socorrer mães" remete-nos a postagem anterior neste blog, referente à profissional do magistério e suas funções na escola, que ultrapassam as questões de ensino e aprendizagem, sendo-lhes exigido um papel que compete à família, às mães, ao espaço privado destinado apenas às mulheres. No primeiro parágrafo, também é colocada a questão da dupla jornada de trabalho assumida pelas mulheres.

Devido à rotina atribulada, com muitas horas de trabalho por dia, muitas mães deixam crianças em período integral na creche e pedem ajuda a professoras para colocar limites nos filhos. Outra função que a escola vem exercendo é deixar a mãe que não tem tempo atenta às fases de desenvolvimento da criança, como mostrar a hora certa de tirar a fralda ou a chupeta, por exemplo.

                  Em outro trecho, uma mãe  que trabalha o dia inteiro e deixa os filhos em período integral na escola diz: "Procuro sempre ajuda das professoras e da direção da escola, quando tenho alguma dúvida, pois confio muito nelas. Enfim.... além de professoras, devem ser as "tias", "a segunda mãe", cabendo-lhes mais uma vez o papel de cuidadoras.
                 Continuando minha leitura matinal, tento passar rapidamente pela seção "Polícia", porém algo me chama a atenção: "Mulher é expulsa de casa com os três filhos.", "Professor mata universitária e leva corpo para delegacia", "Professora denuncia marido por agressão", "Filhas também apanham" e "Mães expulsam filhas viciadas". Em duas páginas vê-se a mulher enquanto vítima de agressões e de vulnerabilidades sociais e culturais. Termino com a fala do agressor ( o marido ) de uma professora, que tenta justificar seu ato:

Ela tem muito ciúme de mim e sempre me agride verbalmente. Eu não posso nem sair de casa que ela fala que eu a estou traindo. Perdi a cabeça e só apertei o pescoço dela para que ela parasse de gritar comigo.

                     O   "SÓ  apertei o pescoço dela"  já diz tudo....

GÊNERO E EDUCAÇÃO

De acordo com Heilbon, Araújo & Barreto, gênero pode ser conceituado como:


[...] construções e expectativas sociais sustentadas em relação aos  homens     e às     mulheres. Em outras palavras, gênero diz respeito ao modo como a sociedade   constrói representações sobre ser homem e ser mulher e pressupõe que sejam naturalmente estabelecidas. Desde pequenos, educamos os meninos para agirem de uma determinada forma e as meninas de outra. ( HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 13, módulo 2 )

Cemin (2003) conceitua gênero como a construção cultural e simbólica das relações entre homens e mulheres, indicando que não existem atribuições naturais para homens e mulheres que sejam fundadas biologicamente e, sim, atribuições sociais, ou seja, papéis: tarefas e valores considerados pertinentes em cada sociedade às pessoas de cada sexo.

Em relação à profissão docente, atualmente, o papel da professora vai além da mediação do processo de construção do conhecimento do (a) aluno (a), ampliando-se a missão da profissional da educação a fim de garantir uma articulação satisfatória entre escola e comunidade. O que vemos é que a professora, além de ensinar, deve participar da gestão e do planejamento escolares, o que significa uma dedicação mais ampla, que se estende às famílias e à comunidade, assumindo o papel também de cuidadora e de “tia” dos (as) alunos (as), papeis relacionados ao gênero feminino.

Diante desse contexto, encontramos professoras desmotivadas, exaustas emocionalmente devido às pressões da profissão docente e da conciliação entre o trabalho e os cuidados com o lar e a família, além de apresentarem uma série de queixas de saúde, o que provoca o absenteísmo e afastamento do trabalho como um mecanismo de defesa. Assim, pode-se também verificar uma maior ocorrência de determinadas queixas de saúde e doenças em mulheres docentes (depressão, enxaquecas, problemas nas cordas vocais), tendo em vista que a docência nas séries iniciais do Ensino Fundamental é marcadamente feminina. De acordo com Heilbon, Araújo & Barreto,

O modo como cada cultura constrói o gênero irá definir um determinado padrão de organização das representações e das práticas sociais no mundo público (rua) e na vida privada (casa), estabelecendo lugares distintos para homens e mulheres e uma dinâmica peculiar entre ambos. Transformações societárias vêm tornando cada vez menos expressivo o modelo tradicional de família no qual a mulher se ocupa exclusivamente da casa, e o homem, do provimento material. Embora as mulheres tenham conquistado expressivo espaço no mercado de trabalho, a participação dos homens nas decisões e nas obrigações referentes à vida doméstica não se faz na mesma proporção, deixando às mulheres a difícil tarefa de conciliar família e emprego. Vemos de forma preponderante o enraizamento da desigualdade de gênero na divisão das tarefas de casa. ( HEILBORN, ARAÚJO & BARRETO, 2010, p. 02

Por ser uma profissão marcadamente feminina, pode-se estabelecer uma ligação dela com os baixos salários e a desvalorização profissional ratificando a ideia de que no mercado de trabalho as diferenças entre os gêneros também determinam diferenças nos salários e nas carreiras escolhidas, pois as mulheres acabam por seguir carreiras tidas como femininas ( como a educação ) e menos valorizadas socialmente.


REFERÊNCIAS:

* CEMIN, A. et al. Imaginário de gênero e violência em Porto Velho. Revista do Centro de Hermenêutica do Presente. Porto Velho, ano 1 , n. 128, jan. 2003. Disponível em: <http://www.unir.br/~primeira/artigo128.html>. Acesso em: 03 out 2011.
*  HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (orgs). Gestão de políticas públicas em gênero e raça/GPP-GeR: módulo 2. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gênero: Uma visão geral em nossa sociedade - Módulo 2

A cada ano, o gênero, infelizmente, ainda é utilizado para determinar a organização social do espaço público e privado. Os gêneros, tanto masculino tanto feminino estão associados a estas instâncias de local, mas ligados a seus estigmas, esses formados culturalmente, socialmente etc. Isso gera uma conformidade em perpetuar que o homem está ligado a produção e a mulher a reprodução.

Seguindo esse pensamento, o espaço público, historicamente, era reservado ao homens como cidadãos e as mulheres confinadas ao mundo doméstico e ainda é. [...] O gênero tem para classificar as aptidões de homens e mulheres em diferentes áreas científicas. [...] ” ( Apostila 03, p. 02, parágrafo 2).

As assimetrias entre gêneros nos demonstra uma análise de homens e mulheres nos diferentes espaços da sociedade.

Estudiosos dizem que culturalmente, historicamente e cientificamente a mulher sempre foi considerada inferior ao homem. No mercado de trabalho vem crescido gradativamente e com pouca intensidade, em comparação ao homem. No espaço escolar, em alguns setores apenas se reduziu o nível de desigualdade, em outros, se aumentou. Na política, ainda há uma luta a se travar. Somente em 1932, foi quando as mulheres e o número de políticos do sexo feminino ainda é muito menor em relação ao dos homens.

No contexto familiar também existe hierarquia moral que estabelece posições sociais. [...] O modo como cada cultura constrói o gênero irá definir determinado padrão de organização das representações e das práticas sociais no mundo público e na vida privada... [...] ” ( Apostila 04, p. 02, parágrafo 2).

Tem-se percebido o crescimento no mercado de trabalho das mulheres, dividindo as despesas da casa com os maridos. Porém esta divisão de trabalho em casa, os afazeres domésticos não estão sendo divididos. Obrigando assim as mulheres a terem jornadas duplas, ou mesmo triplas, por causa da hegemonia masculina, vindo do machismo cultural latino. Homem não cuida de casa e ainda tem o poder de dominação, nas maiorias dos casos.

O sentimento de honra inspira um estilo de conduta máscula e idônea, conhecida como reputação. [...] Este imperativo social que coloca para os homens o domínio público (rua) e para a mulher o âmbito doméstico (casa) implica a “assexualização” da mulher. ” ( Apostila 04, p. 05, parágrafo 4).

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Singela Reflexão sobre os avanços feministas

Realmente as mulheres conseguiram avanços em suas demandas sociais. Com isso, os homens se beneficiaram mais ainda! Antes havia uma divisão de funções e nela as mulheres não se prestavam a determinadas funções. Hoje, elas, aos poucos estão se introduzindo em todas as funções e atividades sociais. Mas, esse avanço da forma que esta 'desenhado' é bom para as mulheres? É boa dupla ou até mesmo tripla função? As lutas, melhor, os avanços sociais conseguidos, permitiram, na maioria esmagadora, apenas a inclusão das mulheres nas áreas da sociedade nas quais elas julgavam estar sendo discriminadas. Entendo que para inicio foi bom lutar por inclusão; isso já é realidade... Mas no ponto que estamos o foco, penso eu, deve ser mudado. Não se trata só de inclusão ou não discriminação; a questão precisa ir além, precisa voltar-se, nesse momento, para a mentalização de que homens e mulheres têm a mesma parcela de responsabilidade na sociedade! Entendo que a igualdade de condições que a luta feminista esta conseguindo fazer realidade, esta muito voltada, tão somente, para a não discriminação de gênero, e me parece que o principal objetivo é igualdade de funções, fazendo com mulheres ocupem as mais diversas atividades sociais. Desse modo busca-se a aceitação e a naturalização de que mulheres podem e devem ocupar as mais diversificadas funções sociais. O problema, no meu entendimento, é que essa nova naturalização social de funções não deixar de considerar as funções 'naturais' atribuídas a elas por conta do gênero. E a nós homens? Bem, foi 'pedido' para 'aceitarmos' que a mulher atue na política, trabalhe 'fora', dirija caminhões, seja pedreira, seja empresaria, seja independente, que divida a conta..., tudo sem deixar de considerar que ser dona de casa, ser mãe, ser dedicada e todas as demais atribuições inculcadas como 'naturais' devido ao gênero, são Invariavelmente de sua responsabilidade!
Acredito que os avanços conseguidos são essenciais, porém nesse momento não devemos lutar por aceitação e não discriminação tão somente. Incutir que igualdade não se refere somente à aceitação e à não discriminação; vai além, e talvez nesse momento, seja o ponto crucial; pressupõe responsabilidades iguais em toda e qualquer atividade social, acima de tudo superar de vez a noção de divisão social do trabalho baseado no gênero(homem/mulher).

Paulo Cesar S. Rodrigues
Aluno do curso de Pós graduação de Políticas Públicas Gêneero e Raça -UFES



referencia:
HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (orgs). Gestão de políticas públicas em gênero e raça/GPP-GeR: módulo 2. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Novo Homem-Aranha é negro e de origem hispânica.

Postei essa novidade neste blog só para uma reflexão. Claro é uma grande vitória. Um herói do tamanho do Spider Man negro quebra muitos paradigmas, deixa um monte de gente com dor preconceituosa de cotovelo. Ouvi perto uma frase que me deixou abismado: "-só fizeram por causa do Obama...".


Mas meu objetivo é debater o seguinte tema: se o Homem-Aranha será negro - imagino - logicamente que a Mary Jane Watson será uma negra ou no mínimo hispânica. Estou muito curioso para ler como os malvados e terríveis inimigos do amigo numero um de Nova Iorque, farão essas violências contra a jovem que seria a donzela a ser defendida. Não sou contra a arte dos gibis, não sou contra o Homem-Aranha. Sou contra a má utilização das imagens  de negros e negras. Às vezes o que parece uma glória, por trás, pode ser também uma desgraça. Pensem nisso e vemos esperar quando sair esta revista de qualidade indiscutível.


Gostaria de deixar essas reflexões para serem debatidas. Penso que é uma faca de dois gumes.


Pedro Paulo Barbosa Carvalho - Grupo 3 - Cachoeiro de Itapemirim - ES
Marketeiro e Publicitário





segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pesquisa revela país rico em preconceito

     Dados estatísticos de fontes confiáveis são sempre bem-vindos ! Assim, em reportagem intitulada "Pesquisa Revela um País Rico em Preconceito",   do jornal A Gazeta, de 23 de julho, são relatados os resultados de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no dia anterior. Seguem alguns  dados:

* Para 63% dos entrevistados,  a cor da pele influencia na  vida, sendo o impacto maior no trabalho;
* Para 65%,   a cor e a raça repercutem no convívio social;
*`Para 68,3%, a cor e a raça interferem na relação com a justiça e a polícia.

     Em meio aos dados e  números citados, algumas vítimas do preconceito com ocupações diferenciadas ( manicure, juiz, vendedor de picolé, deputado estadual...) se manifestam nos depoimentos:  "Pessoas até me olhavam de lado.", " Acharam que eu poderia assaltar." , "A visão é de que negro não pode ascender.", "Era sempre o suspeito. ",  "Só quem já vivenciou sabe o impacto de uma atitude racista em sua vida." Este último depoimento me fez recordar as  frases: "Uns (umas) não veem o racismo e o sexismo que outros (as) vivem. Uns (umas) são considerados (as) mais iguais que outros (as)".
     A reportagem remete-nos ao mito de democracia racial (já relatado neste blog), pois expõe uma realidade que nós, brasileiros (as) insistimos em negar. Afinal, é mais fácil propagarmos o mito do que encararmos nossos preconceitos, atitudes racistas e nosso racismo velado.
     "Preconceito: quem disse que ele não existe no Brasil !"

Giovanna C. Werneck

sábado, 30 de julho de 2011

Breves reflexões sobre o mito da democracia racial

Não podemos deixar de problematizar a questão do mito da democracia racial, que exalta a diversidade brasileira,  a vivência  tida como pacífica de grupos e raças diversas  no extenso território brasileiro, porém  em detrimento do respeito à diversidade humana e da crítica às desigualdades, o que leva a uma desigualdade de oportunidades e de resultados.  Desta maneira, a valorização da diversidade e a negação das desigualdades advindas do mito da democracia racial produz concepções e políticas públicas que pensam em garantir a cidadania apenas a partir  da valorização das expressões culturais de grupos e raças historicamente discriminados. Assim, vemos nas escolas (ditas laicas, por sinal) o cumprimento da Lei 10639/03 apenas nas manifestações de valorização da cultura afro-descendente (e só no dia 20 de novembro). Diz-se com isso, que a escola colabora na desconstrução de preconceitos e paradigmas de discriminação baseados no conceito hierarquizante de raça. Afinal, preconceituosos são os outros e o mito da democracia racial dá conta de estabelecer a utópica convivência pacífica entre as raças (mas deixa de lado a questão da desigualdade de oportunidades, do racismo mascarado, do preconceito velado).
Se os discursos  produzem verdades que legitimam determinadas práticas,  a valorização e desvalorização de  grupos sociais são construídos historicamente, não são naturais, portanto podem ser desconstruídas. Citando Nelson Mandela, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, sua origem ou religião. Para odiar e discriminar, as pessoas precisam aprender e se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.”
Desta maneira, é urgente a construção de uma sociedade em que a justiça consiga abarcar tanto as reivindicações de igualdade social quanto as de reconhecimento das diferenças, pois o que encontramos hoje é o caráter contraditório dos discursos da modernidade capitalista que, por um lado, afirma a liberdade e a igualdade e, por outro, nega as possibilidades de acesso para determinados segmentos discriminados historicamente devido a suas diferenças e ao não-enquadramento nos padrões ditos normais de comportamento e pensamento. Assim, a justiça social pressupõe não só a redistribuição de riquezas, o caráter econômico, mas o reconhecimento e aceitação das múltiplas subjetividades e diferenças.

Giovanna Carrozzino Werneck

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O que dizemos pode-se tornar uma verdade. Cuidado.

Sejamos honestos e honestas, pense comigo um instante, mas no imaginário popular nessas lindas cantigas, quem era a Lelê? Aquela que samba, desce, sobe e que pisaram na barra da saia dela. Claro que era uma negra. Está nas entrelinhas. Quem sambava naquela época de Villa Lobos? Vale deixar registrado que foi Vila Lobos que reuniu essas cantigas maravilhosas. Mas voltando ao assunto o samba era perseguido ferozmente, a pemba era coisa de gente demoníaca, e o detalhe: eles não prendiam, só batiam com diz o sambista Zeca Pagodinho.
O que fez a Lelê para ter a cabeça quebrada? Qual seu pecado para lever muitas lambadas? E mais, era forçada a dançar mesmo com essas terríveis mazelas. Respondo, era negra, e negros não valiam a pena, eram burros e só serviam para trabalhar e ser purificarem de seus pecados.
Mas esse registro é para abrir nossos olhos: a propaganda fica, uma mentira contada muitas vezes vira verdade. A publicidade é uma arma que funciona muito bem. Foi assim nas igrejas, foi assim na escravatura e está sendo assim na violência de todo tipo contra a mulher negra. Abram seus olhos.

Até.

Pedro Paulo Barbosa Carvalho
Grupo 3 - Cachoeiro de Itapemirim
Marketeiro e Publicitário

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Repassando o que o PM Saulo Rodriguez diz sobre o dia a dia da violência contra a mulher.

"Como PM sou uma testemunha viva dos casos de flagrante envolvendo violência contra a mulher, pois no telefone 190 ocorrem muitas chamadas para esses casos, principalmente nos finais de semana. Outro ponto importante é que mesmo com o advento da Lei Maria da Penha, não exaure o assunto, pois existem outros benefícios legais para o agressor. No Brasil o entendimento é que a liberdade é a regra, a prisão é a excessão. Por isso ela funciona como "última ratio", quer dizer, último recurso.
A intervenção estatal na violência da mulher tem lugar somente para cessar o ciclo da violência, não para encarcerar o agressor."


Saulo Rodriguez está no grupo 03 - Cachoeiro de Itapemirim

Campanha Brasileira do Laço Branco

Homens pelo fim da violência contra a mulher.
Essa é uma bela campanha publicitária promovida pela RHEG - Homens pela Equidade de Gênero.
A gente pode perceber que são homens que estão tomando essa atitude de não-violência. Percebe-se também a qualidade do material, organização e dos atores de nível. É uma campanha internacional.
Quer saber mais?
www.lacobranco.org.br

Pedro Paulo Barbosa Carvalho
Profissional de Marketing e Publicidade.
Grupo 3 - Cachoeiro de Itapemirim

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Violência contra a mulher negra

O trabalho que será apresentado neste blog tem como objetivos gerais verificar a ocorrência de casos de violência doméstica contra a mulher negra no município de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, nas instituições Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e Delegacia da Mulher, a partir do 2º semestre de 2010, enfatizando a coleta dos seguintes dados: cor/raça, faixa etária, renda social, grau de escolaridade e composição familiar. Serão também levantadas e analisadas as políticas públicas intersetoriais e ações que têm sido implementadas pela Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim para combater a violência contra a mulher negra e possibilitar-lhes o empoderamento. Ao final, será apresentada pelo grupo uma Proposta de Ação que Promova a Equidade de Gênero e Raça no município de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo.
A pesquisa partirá de uma análise quantitativa para a análise qualitativa dos dados, considerando os conceitos de políticas públicas, gênero, raça e violência doméstica.
Políticas públicas intersetoriais correspondem ao conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais dos (as) cidadãos (ãs), sendo elaboradas a partir das demandas da sociedade civil, que apresenta o papel fundamental no ciclo que vai do planejamento à avaliação das políticas públicas. Assim, as políticas públicas configuram-se nas ações tomadas pelos governos democráticos – que é o intermediário entre a sociedade e o Estado - e que visam à elaboração de projetos de interesse da sociedade, produzindo, assim, mudanças e resultados no mundo real. Neste processo, é imprescindível o exercício da gestão participativa, tanto na proposição de ações quanto na avaliação dos resultados. Por envolverem diversos sujeitos, segmentos sociais e instituições, as políticas públicas apresentam um caráter interdiciplinar.
De acordo com Souza, a política pública intersetorial

[...] permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que , de fato, faz; envolve vários autores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes; é abrangente e não se limita a leis e regras; é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados; a política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo; envolve processos subsequentes após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação. (SOUZA, 2006, p. 36-37)

Gênero pode ser conceituado como:

Uma categoria de análise, conceituando-o como elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos e como uma forma primeira de significar as relações de poder. ( SCOTT, 1995, p. 04 )

Assim, a categoria gênero permite-nos compreender como os sujeitos sociais estão sendo constituídos cotidianamente por um conjunto de significados impregnados de símbolos culturais, conceitos normativos, institucionalidades e subjetividades sexuadas (SCOTT, 1995), que atribuem a homens e mulheres lugares diferenciados e historicamente determinados, sendo esta diferença atravessada por relações de poder que conferem ao homem uma posição dominante. É imprescindível que ao discutirmos relações de gênero procuremos compreendê-las a partir de um universo conceitual relacional, superando fórmulas simplificadoras que convertem o ser masculino e feminino em campos estanques e homogêneos, como se entre eles não houvesse convergências e divergências.
Em relação ao conceito de raça, considerando o ponto de vista científico e biológico não existem raças, mas apenas uma raça: a humana. Porém, do ponto de vista social, cultural e histórico, o termo raça vem imbuído de uma ideologia estigmatizante e hierarquizada, escondendo relações de poder e de dominação. É só a partir do conceito de raça (enquanto hierarquia) que é possível falar de preconceitos, hierarquias e oportunidades desiguais para o exercício da cidadania. Desta maneira, raça é uma construção socio-histórica e para compreendermos as relações de poder e dominação em uma dada sociedade, é imprescindível compreender as ideologias por trás de tal conceito, ideologia esta que permite a uns (umas) serem vistos (as) e tratados (as) como melhores do que outros (as), que concede a uns (umas) mais oportunidades e mais espaços de participação do que a outros (as), considerados (as) subalternos (as), incapazes e cidadãos (ãs) de segunda categoria. De acordo com Munanga,
[...] o conceito de raça, tal como o empregamos hoje, nada tem de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias ele esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e de dominação. A raça sempre apresentada como categoria biológica, isto é, natural, é de fato, uma categoria etno-semântica. De outro modo, o campo semântico do conceito de raça é determinado pela estrutura global da sociedade e pelas relações de poder que a governam. Os conceitos de negro, branco, mestiço não significam a mesma coisa nos Estados Unidos, no Brasil, na África do Sul, na Inglaterra, etc. Por isto, o conteúdo dessas palavras é etno-semântico, político-ideológico e não biológico. (MUNANGA, 2003, p. 27)


Violência doméstica pode ser compreendida como o abuso físico ou psicológico de um membro de um núcleo familiar em relação a outro, com o objetivo de manter poder ou controle. Esse abuso pode acontecer por meio de ações ou de omissões, podendo ser explícito ou velado. De acordo com Dias:

Atualmente, este conceito integra desde a agressão física, emocional, psicológica, simbólica, sexual, até a violência situada numa perspectiva macrossocial e que é experimentada pelas dificuldades de acesso à saúde, emprego, educação e cultura. Estas dificuldades, que muitas vezes se traduzem em privações concretas, não deixam de ser formas de exclusão social. (DIAS, 193-194)


A violência doméstica não está desvinculada da violência de gênero que é considerada como

[…] aquela que contém em si, características próprias e que acontecem com a mulher simplesmente pelo fato de ser mulher. É uma violência que tem locais próprios, forma de acontecer característica, condução e perpetração que ocorrem por uma relação marcada pela dominação masculina. As raízes da violência encontram-se nas próprias relações de gênero. (OLIVEIRA & FONSECA, 2007, p. 607)





REFERÊNCIAS

* DIAS, I. Exclusão Social e Violência Doméstica: que relação ? Revista da Faculdade de Letras: Sociologia, 08, 1998, p. 189-205. Disponível em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1457.pdf. Acesso em 14 de julho de 2011.
* MUNANGA, K. Uma Abordagem Conceitual das Noções de Raça, Racismo, Identidade e Etnia. Palestra proferida no 3º Seminário Nacional de Relações Raciais e Educação. PENESB-RJ, 05 nov. 2003.p. 27. In: COSTA, D.M., OSÓRIO, A.B. & SILVA, A. de O. Gênero e Raça no Orçamento Municipal: um guia para fazer a diferença, vol 1. Orientações Básicas. IBAM/DES, Rio de Janeiro, 2006.
* OLIVEIRA, C.C.de, FONSECA, R.M.G.S.da. Práticas dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família Voltadas para as Mulheres em Situação de Violência Sexual. Revista Esc. Enfermagem USP, São Paulo, v.41, n.04, 2007. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0080-62342007000400010&script=sci_arttext. Acesso em 14 de julho de 2011.
* SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Recife, SOS Corpo, 1995.
* SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n.16, 2006.